Em declarações à NTV desta semana, Nicolau Breyner (Carlos em "Louco Amor" da TVI), afirma que desconfia das audiências, no entanto que "Gabriela" da TV Globo é imbativel.
Veja abaixo a entrevista completa do ator de 72 anos à publicação do Jornal de Notícias:
Louco Amor estreou em maio e arrancou como novela líder. Mês após mês foi
perdendo espectadores. Como explica a perda de liderança da novela? As
audiências valem o que valem, sempre disse isso. Sabemos perfeitamente que as
audiências são falíveis, mas não estou a dizer que são manipuláveis... Enfim,
também o são. Qualquer estatística é manipulável, até quando o assunto em
questão é se gostamos mais de praia ou do frio. Atenção, não estou a dizer que
as audiências são manipuladas.
Mas acha que as audiências são bem
medidas em Portugal? Estou só a dizer que valem o que valem. Neste momento,
a SIC, segundo dizem as audiências, lidera o mercado. Acho que é altura de a TVI
puxar pelos galões e liderar novamente. E pode fazê-lo.
No caso desta
novela, acha que algo está a falhar? Como explica o desprendimento do
público? Não há um desprendimento tão grande! Nós, atores, andamos na rua e
ouvimos as pessoas a falar da história e, digo-lhe, sabem contar a história de
Louco Amor com pormenor. Há qualquer coisa que... não é exatamente assim. Quando
a TVI liderava as audiências e ganhámos o Emmy com a novela Meu Amor, eu também
não dizia que éramos os melhores do mundo. Nunca disse isso e, portanto, agora
também não digo nada. Acho que tudo isto são momentos, com altos e
baixos.
Não estou a pedir-lhe uma crítica negativa. É ator, realizador
e tem muita experiência... Não tem opinião? Acho que a novela enquanto
género tem de ser repensada. Foram vários os velhos do Restelo que disseram que
a novela estava acabada, mas é mentira. A verdade é que a ficção nacional
continua a estar no top das audiências. A base de sustentação de uma estação de
televisão é a ficção. Temos de repensar a novela, adaptá-la aos tempos, aos
gostos do público.
Vai perdoar-me, mas insisto, as novelas da TVI
estão menos atrativas?
[faz uma pausa e demora a responder] Nós em
Portugal somos muito maniqueístas, é o bem ou mal ou o bonito e o feio. É um
defeito que temos porque ou somos os melhores do mundo ou [brinca com a voz e
finge estar a ser sufocado] vamos todos morrer e é já amanhã! Somos um país
bipolar.
Em entrevista recente ao programa Face To Face,
exibido no canal TVI Ficção, falava das novelas portuguesas e acabou por
defender: "Já estivemos no caminho mais certo." Sim, acredito nisso. Acho
que a TVI tem de parar para pensar, não lhes vou dizer em quê porque eles sabem.
E eu não sou o dono da verdade. Quando uma coisa corre menos bem temos de parar
para pensar porque é que correu dessa maneira. É falta de mérito nosso? É mérito
da SIC? Vamos ver.
O que acha que o espectador português procura hoje
numa novela? Não se deve pensar naquilo que os portugueses procuram numa
novela, acho que se deve pensar à escala mundial. [Nicolau Breyner é
interrompido. Mafalda Bessa, sua mulher, entra na sala, dá um beijo de bom dia
ao ator, senta-se no sofá e fica a assistir à entrevista] Temos de perceber o
que as pessoas querem e dá-lo de forma apelativa. A realidade tem de ser
filtrada, adoçada, para que as pessoas achem a novela apelativa.
Já
espreitou o remake Dancin'Days, em exibição diária na SIC?
Já, é uma
novela normal, como outra qualquer.
Esta produção colocou a SIC na
liderança. É merecedora do êxito que tem conquistado? Se o público acha que
sim...
Usando as suas palavras, de facto, "não caiu o mundo". Mas a
TVI está pela primeira vez, e após uma década de domínio, a perder liderança no
campo da ficção... Sim, mas não se pode falar só de Dancin' Days. Falem,
sim, de uma novela chamada Gabriela. Vamos ser honestos: há um trampolim que é a
Gabriela e que é, a meu ver, imbatível. É um produto com nome feito, visto por
várias gerações. Tudo isto conta, trata-se de uma política que empurra as coisas
para cima.
Está a referir-se à máquina da Rede Globo? A SIC só começou
a liderar o prime time de novo por causa das novelas da Globo... Exatamente.
A Rede Globo tem um potencial muito grande.
Como vê a introdução
crescente das novelas brasileiras na televisão portuguesa? A SIC tem neste
momento em antena três produções, Fina Estampa, Gabriela e Avenida Brasil, sendo
Dancin' Days um remake da versão original brasileira. Eu e mais três ou
quatro malucos revoltámo-nos, em tempos, contra a hegemonia das novelas
brasileiras e começámos a fazer MoitaCarrasco [mininovela inserida no programa
Eu Show Nico, exibido em 1987, que fazia uma sátira aos folhetins brasileiros].
Estamos a ser colonizados pelas novelas brasileiras.
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